Lobato e sua história
Este blog foi criado para a disciplina Referenciais Teórico-Metodológico da História no Ensino Fundamental, ministrada pelo professor Alfredo Matta. O objetivo é contar um pouco da história do Bairro em que cada aluno nasceu, e aqui está o meu: Lobato, bairro do subúrbio ferroviário de Salvador, Bahia, Brasil.
quarta-feira, 13 de agosto de 2014
segunda-feira, 11 de agosto de 2014
Saiba um pouco da história do subúrbio
O
BAIRRO DO LOBATO NO CONTEXTO DE SALVADOR
A
Baía de Todos os Santos foi descoberta em 1501 e a história de Salvador começa nesse período, 48 anos antes da sua fundação. Por ser a baía portuária com boa localização, tornou-se um ponto de referência para os
navegadores e um dos lugares mais visitados do Novo Mundo, incentivando assim a ideia da construção da cidade.
Nomeado
governador-geral pelo então rei D. João III, Tomé de Souza veio para o Brasil
com a incumbência de fundar a cidade de Salvador. A edificação da cidade de
Salvador, também chamada de cidade-fortaleza foi escolhida no local mais alto
do sítio, no trecho que atualmente é compreendido entre Praça Castro Alves e a
Praça Municipal.
Com
a vinda de escravos que chegaram para trabalhar, a cidade desenvolveu-se,
porque além de portuária contava com o cultivo de cana de açúcar e o comércio
de algodão, fumo e criação de gado. A riqueza da cidade atraiu a vinda de
estrangeiros que organizavam expedições para vir explorá-la.
Mais
tarde, em 1808, a cidade foi escolhida pela família real portuguesa para se
abrigar quando da sua vinda de Portugal fugindo dos ataques de Napoleão.
Chegando aqui no Brasil, D. João que era o príncipe regente, abriu os portos
para as nações amigas e fundou a primeira escola de medicina do país.
Com
o passar dos anos Salvador começou sua expansão urbana com ocupação de novas
áreas, crescimento da cidade baixa e o surgimento dos bairros do subúrbio,
entre eles o Lobato.
O
bairro do Lobato compreende os núcleos do Alto do Cabrito e Boa Vista do Lobato,
além do Lobato propriamente e fica situado na falha geológica de Salvador, ao
norte do bairro de São Caetano. Na parte ao nível do mar é atravessado pela
Avenida Suburbana e pela linha Férrea Federal, o que lhe proporciona uma linda
vista para a enseada dos Tainheiros, no bairro da Ribeira.
Como
toda a região do subúrbio ferroviário pertencia a famílias, o Lobato foi uma
fazenda de propriedade de Vasco Rodrigues ou Francisco Rodrigues Lobato, há
controvérsias quanto ao nome do proprietário No local tinha uma capela chamada
Santa Luzia e ilhotas cercadas de manguezais, entre elas a ilha de Joanes. Daí
vem o fato do bairro ser também chamado de Santa Luzia.
Esta
região, onde começa o Recôncavo baiano, foi explorada economicamente desde a
chegada dos portugueses no Brasil, há 500 anos, Primeiramente com a extração da
madeira depois com a plantação de cana de açúcar, a cultura do tabaco e
extração do petróleo. Essa região foi marcada pela presença dos indígenas, de
quilombolas, holandeses e portugueses. Durante certo tempo o local foi usado
como local de veraneio por ter aparência campestre, clima agradável e ficar próximo a Baía de Todos os Santos.
No
inicio o subúrbio era servido pela linha ferroviária Leste Brasileiro, isso fez com que se intensificasse a expansão urbana já existente em Salvador e
em seguida se encaminhasse para o subúrbio fazendo surgir novos núcleos
populacionais. A elevação da ocupação e sua ampliação fizeram com que o
empresariado industrial instalasse a indústria têxtil, como a Fábrica de
Tecidos São Brás no subúrbio de Plataforma.
A
chegada da indústria próxima à linha férrea gerou a diminuição dos custos da
produção por ser o transporte mais barato e a mão de obra considerada grande,
surgindo no local, uma área industrial formada de produção e moradia. Todos
esses fatores junto com oficinas, fábricas e das antigas fazendas que já
existiam na área colaboraram para delinear, a partir do século XIX, os núcleos
que hoje representam os bairros do subúrbio ferroviário. A medida que a região
crescia, iam surgindo loteamentos regulares, irregulares e invasões sem nenhum
planejamento aumentando os núcleos residenciais. E foi nesse contexto que surgiram
os bairros de Lobato, Plataforma e Paripe.
O
Lobato se tornou famoso por ter sido o local onde foi encontrado o primeiro
poço de petróleo brasileiro, na década de 40, época da campanha Getulista “O
petróleo é nosso”. Apesar de algumas versões sobre o aparecimento do petróleo
no Lobato, a versão mais aceita, a do Ministério de Minas e Energia, conta que os moradores do Lobato
alegavam que a água retirada dos poços artesianos apresentava além de um odor forte, uma estranha peculiaridade: pegava fogo, inclusive algumas pessoas usavam essa
água para acender as luminárias. Esse fato chamou à atenção de dois técnicos,
os quais, aconselharam autoridades locais a perfurarem um poço no bairro.
Iniciou-se, então, a perfuração de vários poços e em 1941 foi achado petróleo,
começando a partir daí a primeira produção comercial do ouro negro no Brasil.
Além
dos aspectos citados, o subúrbio do Lobato ainda apresentava particularidades, as quais, valem a pena serem comentadas, como:
-
A antiga ilha de Santa Luzia (aterrada mais tarde), cheia de árvores frutíferas
e o manguezal onde acontecia a “captura” de caranguejos; um banco de mariscos, local em que moradores do bairro e adjacências iam diariamente catar diversos tipos de
mariscos. Esses frutos do mar além de serem usados na própria alimentação, também eram vendidos para ajudar na renda familiar.
-
Existe também no local, ainda hoje, uma pedreira chamada Santa Luzia onde por falta de uma
infra-estrutura já houve vários deslizamentos de terra ocorrendo várias mortes.
Próximo à pedreira existem dois campos de futebol, onde a mais de 50 anos atrás
aconteciam disputas de futebol entre times “oficiais” fundados pelos moradores.
-
Antigamente o subúrbio do Lobato era ligado ao subúrbio de Plataforma apenas pela ponte São João, que teve sua estrutura de ferro projetada em Londres e chegou ao Brasil em 1944, ano em que se iniciou a construção da mesma, sendo inaugurada em 1952. Atualmente essa ligação
também é feita pela Avenida Afrânio Peixoto, mais conhecida como Avenida
Suburbana.
-
Bem antes da construção da Avenida Suburbana, atracavam no Lobato (Santa
Luzia), vindos do Recôncavo, saveiros repletos de mercadorias como: carvão
vegetal, frutas, telhas, madeiras, etc. Essas mercadorias eram compradas por moradores do local e adjacências, provavelmente por serem comercializadas a um preço mais barato.
Atualmente
o subúrbio do Lobato apresenta várias “invasões” com uma ocupação desordenada
fazendo com que haja um aumento no índice da marginalidade. Falta saneamento
básico, é um bairro carente e abandonado como a maioria dos lugares periféricos dessa cidade. Os
melhoramentos foram poucos, podemos citar como um deles a construção de uma
estação da linha férrea entre as duas já existentes; Calcada e Lobato, consideradas longe uma da outra. A construção da nova estação facilitou a locomoção dos moradores. Porém, muita coisa precisa
ainda ser feita para que o Lobato faça jus ao título do local onde foi
encontrado o primeiro poço de petróleo.
ENTREVISTAS;
Foram feitas duas entrevistas,
uma com a Sra. Marlene e outra com Sr. Luís. Os dois entrevistados pediram para
não ser fotografados e nem gravados, mas não se opuseram que seus nomes e
idades fossem divulgados.
A primeira entrevista foi feita
com Sra. Marlene, 75 anos, aposentada da Polícia Técnica e formada em Direito,
moradora do bairro desde que nasceu.
1, Há quanto tempo a Sra. mora no
Lobato?
- Minha filha, nasci e me criei aqui, nunca
sai, assim como também os meus pais e meu irmão. Tinha também uma irmã, mas
essa casou e foi morar em outro bairro.
2. A Sra. Gosta de morar aqui, por que?
- Tanto gosto que estou aqui até hoje,
apesar de já ter recebido vários convites do meu cunhado e de minhas sobrinhas
pra morar com eles lá na cidade baixa, mas...prefiro ficar no meu canto.
Porque...na verdade aqui estão minhas raízes, foi nessa casa que sempre
moramos, eu, meus irmão, meus pais. E eu não casei, aí... fui ficando... acho
que vou morrer por aqui.
3. É verdade que os saveiros que
vinham para vender suas mercadorias atracavam aqui bem perto da sua casa? Então a maré chegava perto da linha do trem?
- É sim, eu mesma comprava frutas nesses
saveiros. Depois o povo foi aterrando, construindo casas, veio a Av. Suburbana,
e a maré foi se afastando, agora praticamente não existe, quer dizer ficou tão longe, até parece que estamos falando de algo que nunca existiu, engraçado, você me fez pensar em coisas que nem lembrava mais, riso.
4. A Sra. sabia que a muitos anos atrás o
Lobato era uma fazenda?
- Vagamente, meu pai apesar de não ser
formado, só tinha mesmo o antigo curso primário, gostava muito de ler e lembro
vagamente de tê-lo ouvido falar a respeito, mas é bem interessante, foi uma fazenda...é?...fiquei surpresa.
5. Que a Sra, acha do Lobato de “ontem e de hoje”?
- É, as mudanças foram muitas, antigamente
todo mundo que morava por aqui se conhecia, podia-se sair na rua, não tinha
perigo algum. Agora isso aqui virou um bairro violento, cheio de marginais,
viciados em drogas, algum tempo atrás fui até assaltada. Isso não é vida.
A Segunda entrevista foi feita
com Sr. Luis, 67 anos, policial aposentado.
1.O Sr. Mora aqui a quanto tempo?
- Nasci e
fui criado aqui e não pretendo me mudar, já estou acostumado e gosto daqui.
2.O Sr. Conhece todo o bairro?
- Claro, como a palma da minha mão. Tenho
até outra casa, lá em cima no São Caetano,
mas não pretendo me mudar pra lá, aqui é melhor, dizem que aqui é
perigoso, e daí? Perigo tem em todo lugar.
3. Falando um pouco sobre o
lugar, o Sr. Conhece bem a pedreira Santa Luzia?
- Sim, lá tem até um campo de futebol onde joguei muito "baba" quando era jovem; agora, meu pai era jogador "oficial" de um dos times do bairro que usava esse campo. Quanto a pedreira, já vi mais de um desabamento acontecer nesse lugar,
muita gente morreu, de teimosia, moravam lá na ribanceira.
4. É verdade que a maré vinha até aqui perto
da linha do trem e que tinha uma ilha com um marisqueiro?
- É verdade, tinha essa ilha sim. O
marisqueiro também existiu, vinha gente do Largo do Tanque, São Caetano,
Fazenda Grande e outros lugares pra mariscar e olhe que saiam com latas e mais
latas de marisco. Eu nunca fui até lá, mas via quando o povo passava.
5. E sobre o primeiro poço de petróleo
encontrado aqui no Lobato, o que o Sr. Tem a dizer? - É uma coisa muito falada,
agente até aprende na escola, então é verdade. O bairro é famoso por isso, mas
de que adianta, vive esquecido, vai entender...
6. Que o Sr. acha dessa estação
de trem que foi construída bem perto aqui da sua casa?
- Moça, que adianta estação perto de casa
se ninguém quer mais viajar de trem, é lento, perigoso, dizem que tem até assalto
dentro deles, eu mesmo não uso, prefiro andar de ônibus. Agora, deve ter beneficiado
algumas pessoas porque é um meio de transporte mais barato.
CURIOSIDADES:
1.
Uma parte do bairro, entre a Calçada e a Estação do Lobato, é chamado de Santa
Luzia, provavelmente porque ficava próximo ao local onde existia a Capela de Santa Luzia.
2.
Uma moradora do local afirma que a prefeitura cavando próxima à sua casa, em
Santa Luzia, encontrou uma peça de navio, indicando que ali pode ter sido uma região
de mar que foi aterrada.
3.
Quilombolas eram os escravos negros refugiados em quilombos, os quais, no
período da escravidão fugiam dos engenhos de cana de açúcar, fazendas e
pequenas propriedades.
4. Segundo alguns autores, o bairro se chama Lobato porque na época em que era uma fazenda, o seu proprietário chamava-se Francisco Rodrigues Lobato.
4. Segundo alguns autores, o bairro se chama Lobato porque na época em que era uma fazenda, o seu proprietário chamava-se Francisco Rodrigues Lobato.
REFERÊNCIAS
OLIVEIRA, Mario Mendonça de. As fortificações portuguesas de Salvador quando cabeça do Brasil. Fundação Gregório de Matos. 2004.
OLIVEIRA, Mario Mendonça de. As fortificações portuguesas de Salvador quando cabeça do Brasil. Fundação Gregório de Matos. 2004.
http://www.paralerepensar.com.br/antoniojorge_avidapacatadestaluzia3.htm
Acesso em: jul. 2014.
Acesso em: jul. 2014.
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